terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lançamento do Doc.

Lançamento do do doc. A REVOLTA, dirigido por mim e João Marcelo Gomes. Programa DOCTV, Sexta dia 08 na TV Cultura e Educativa, 22:30.
Assistam, comentem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A voz do rádio no conflito de 57













Por Éverly Pegoraro
“As revoluções no Paraná se fazem pelo rádio”, dizia a revista O Cruzeiro1 , em sua edição de 12 de outubro de 1957, ao interpretar os acontecimentos que marcavam o Sudoeste paranaense como uma região de graves conflitos agrários. As disputas por terras, que ocasionavam investidas violentas de jagunços, revides organizados de colonos e posseiros e manifestações mascaradas de muitos políticos interesseiros chamaram a atenção da imprensa nacional e internacional. Durante alguns meses, e principalmente nos dias dos acontecimentos conhecidos como a Revolta dos Posseiros de 1957, os olhos da mídia se voltaram para o Sudoeste, conhecido na época como um imenso sertão, um verdadeiro Eldorado, “com moradores esparsos e quase divorciados da civilização, quando não constituindo bárbaros valhacoutos de bandidos”2 .


Quando a Imprensa participa da História

A década de 1950 foi marcante para o rádio. O incentivo ao consumo levava cada vez mais brasileiros a adquirirem o aparelho. O crescimento do rádio enquanto veículo de comunicação acontecia quantitativa e qualitativamente. A informação ganhava espaço nas programações, através de um radiojornalismo mais dinâmico e envolvente. O rádio mexia com a imaginação dos ouvintes, principalmente nos meios rurais, pois era o único elo de ligação com o mundo exterior.
Dessa forma, as emissoras Colméia, tanto em Francisco Beltrão como em Pato Branco, tornaram-se instrumentos de mobilização popular. Era através do rádio que a população, de uma maneira geral, tomava conhecimento da gravidade da situação no Sudoeste. Os desabafos dos colonos e posseiros aos radialistas sobre as injustiças e violências que vinham recebendo por parte das companhias de terras e dos jagunços também eram posteriormente relatados no ar. Era uma forma de expor, para quem quisesse ouvir, o que estava acontecendo na região. Gradativamente, os radialistas tornaram-se porta-vozes do conflito e o rádio o meio direto de comunicação entre lideranças, colonos e posseiros. Eles sabiam da abrangência e da força que o veículo possuía na região. Além disso, confiavam nos radialistas que tanto admiravam. Esses assumiam, aos olhos dos posseiros, a representação de heróis, de pessoas capazes de ajudá-los numa luta na qual o Estado parecia não estar do seu lado.

Colonos e posseiros foram convocados a participar da revolta pelas ondas do rádio. Era através da emissora que eles recebiam voz de comando e informações sobre os acontecimentos. Além disso, em Francisco Beltrão, a emissora funcionava como uma espécie de quartel general do levante, já que Pécoits e seus companheiros ficaram no edifício da rádio, um pequeno prédio em madeira de dois andares, no centro da cidade. E foi nesse local onde se deu o entendimento para cessar o conflito no município.

A atuação das emissoras Colméia de Pato Branco e Francisco Beltrão e as desavenças entre algumas lideranças da revolta – entre elas Ivo Thomazoni e Walter Pécoits – com o governador Moysés Lupion foram tão marcantes que o governador ameaçou fechar as emissoras. A alegação era de que as rádios perturbavam a ordem pública e tinham tendências subversivas, de acordo com a entrevista que Tomazoni forneceu ao O Estado do Paraná em 13 de novembro de 1957. Mas para uma emissora que conseguiu mediar um levante armado que saiu vitorioso, não seriam as ameaças de um governador que atrapalhariam o gosto da vitória. Assim, o problema foi contornado e as duas rádios continuaram suas atividades.

Através dos microfones, as Rádios Colméia de Pato Branco e Francisco Beltrão mostraram a importância da mediação jornalística atuante e do legado que isso representa para a memória da História Agrária do Paraná

1 MORAES, Mário de. Sangue no Paraná. O Cruzeiro, p. 5, 12 out. 1957.
2 COELHO JUNIOR. De paraíso a inferno. O Estado do Paraná, 25 set. 1957. Artigo, p. 4.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Paraná - Pioneirismo calibre 38

Revista Manchete - Reportagem de Carlos Lemos em 1957


O Paraná esteve em guerra. Quatro mil colonos, normalmente pacíficos, pegaram em armas para defender suas terras, no Sudoeste do Estado, fronteira com a Argentina. Ameaçados por companhias colonizadoras, que se dizem proprietárias das terras, os colonos, depois de pequenas escaramuças, durante seis meses, foram à guerra total. Ocuparam uma cidade e sitiaram outra. Nos embates, morreram 15 pessoas: colonos e empregados das companhias.

Enquanto isso, na Justiça, um processo se arrasta, em três partes - União, Estado do Paraná e companhias - se arvoram em donas da terra que os colonos cultivam e fazem produzir. No Congresso, ainda em marcha mais lenta, segue o projeto da reforma agrária.

Os colonos não se negam a comprar as terras. Apenas querem comprá-las de quem possa vendê-las. Vieram do Sul (80 por cento de gaúchos). São pioneiros. Derrubaram a mata, plantaram trigo, feijão, milho e fumo. Agora, começaram a colher o produto. Amam a terra e lutam por ela.

A terra é rica e tem futuro. Por isso, é disputada com o argumento das carabinas.

A terra porque brigam colonos e companhias colonizadoras tem, só no antigo território das Missões, 212 mil alqueires. Com os remanescentes da gleba Chopim, alcança um total de mais ou menos, 375 mil hectares. Abrange sete municípios paranaenses: Chopinzinho e parte de Mangueirinha, da gleba Chopim; e Capanema, Santo Antônio, Barracão, Francisco Beltrão e Pato Branco da gleba Missões.

Está situada ao sudoeste do Estado, na fronteira com a Argentina. Ligando as cidades de Santo Antônio, no Brasil, e San Antonio, na Argentina, existe uma ponte internacional, onde já foi apreendido um Cadillac contrabandeado, e por onde passam os brasileiros que desejam fazer pequenas compras na Argentina, sejam de gêneros alimentícios ou de perfumes e artigos de lã, todos mais baratos do que em Santo Antônio.

Gaúchos são pioneiros

A população é calculada em mais de 120 mil habitantes, com 80 por cento de ítalo-rio-grandenses-do-sul, 10 de paranaenses e o restante de catarinenses, alemães e poloneses.

O mais adiantado dos municípios é Pato Branco, centro comercial da zona, com a fábrica de bebidas, duas fundições, um ginásio de irmãs religiosas, dois clubes, um cinema e dois hotéis. Tem cerca de 40 mil habitantes. O mais novo, criado em 1952, é Capanema, com 20 mil habitantes em todo o município e mil na sede. Santo Antônio, que regula com os demais, tem 15 mil habitantes em todo o seu território e pouco mais de 1.500 na sede.

Nas terras, está a última floresta do Sul do Brasil, calculada, pelo Instituto Nacional de Imigração e Colonização, em um milhão de pinheiros, representando uma riqueza de bilhões de cruzeiros. Cada pinheiro produz de oito a 10 dúzias de tábuas. Cada dúzia é vendida a Cr$ 300. A floresta é tão densa que um macaco, se pular de galho em galho, de árvore em árvore, andará mais de 200 quilômetros, até chegar à fronteira com a Argentina.

As empresas colonizadoras estão vendendo as terras por Cr$ 8 mil o alqueire, reservando para si o direito sobre as madeiras existentes. As principais culturas são de trigo, com 400 mil sacas anuais, milho com 600 mil, feijão, com 500 mil, fumo, principalmente em Capanema, com 15 mil arrobas, e suínos, com 150 mil quilos anuais. Só não dá ali café, por ser muito fria e sujeita a geadas a região.

É zona de pioneirismo. As cidades-sedes são pequenas e pobres. Tem o problema de luz e força, apesar dos rios existentes, mas não explorados. A estrada que liga Capanema a Santo Antônio é rasgada na selva, que quase a invade, em certos trechos. Longe do mundo, só alguns pequenos rádios lhe levam notícias. Não chegam jornais ou revistas.

A gente é boa, ordeira e pacífica. Só o desespero a levaria até os conflitos que lá se desenrolam. São gaúchos que só deixam suas terras para ir à igreja no povoado, aos domingos. Apesar de lembrar o antigo “far-west” americano, não existem os “saloons” e os pistoleiros. Santo Antônio é calma e tem paz.

O Oeste do Paraná é talvez, a zona de maior progresso em todo o Brasil.

sábado, 14 de novembro de 2009

Nosso BLOG













Há 52 anos um grupo de jovens (gaúchos, catarinenses e paranaenses) pegou em armas para lutar pelo seu chão. Esta é uma história que se repete com incomoda freqüência em nosso país, mas esta revolta tem um diferencial que a torna única: nela o povo venceu o governo.
Este evento, chamado por alguns de A Revolta do Posseiros de 1957, é pouco conhecido no país, e para suprir parte desta lacuna estamos lançando um Blog dedicado ao documentário que fizemos, e ao tema que inspira nossa obra.

Ao longo do processo de pesquisa para fazer o filme contamos com a colaboração de inúmeras pessoas, dentre elas jornalistas, pesquisadores, homens e mulheres comuns que dedicaram parte de sua vida à construção e preservação da memória da REVOLTA. Estas pessoas e o material por elas disponibilizado foram de fundamental importância para que pudéssemos conhecer melhor nosso objeto e realizar nosso documentário.

Com a licença destas pessoas, disponibilizaremos parte deste extenso material aqui em nosso Blog, que, posteriormente, se tornará um site em que se poderá baixar áudio de entrevistas, trechos de vídeos, documentos digitalizados, fotos históricas, dentre outros.












O Blog será alimentado diariamente com fotos, relatos de viagem, teaseres, documentos históricos e devaneios acerca da Revolta dos Posseiros de 1957.
Aly Muritiba

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A REVOLTA - Trailer

Assista em HD:
http://www.youtube.com/watch?v=dTeuxGtjAK4

“O único levante agrário armado vitorioso na história do Brasil”.

Esta frase sempre salta a minha frente ao pensar na Revolta dos Posseiros. É emblemática. E me lembra que jovens, ansiosos por estabelecer suas famílias em uma espécie de “terra prometida”, levados a uma situação extrema fizeram o que pode parecer óbvio, mas que exigiu toda a coragem e uma grande dose de desprendimento. Lutaram. Até o fim. Poderiam ter tomado outro caminho, ao vislumbrar tamanho poder dos opressores. Mas lutaram. Até o fim.

Com toques heróicos, pela primeira e única vez em nosso país, Davi derrotou Golias. Porém, mesmo neutralizado Golias continuou ali, silencioso. “Os jagunços continuam ali...”, como bem disse uma das gratas surpresas com que fomos presenteados ao longo do caminho. E por muito tempo a história não foi escrita. E pasmem, até hoje, mais de cinqüenta anos depois, o medo ainda habita algumas das casas da região. Muitos não falam. “Só a forma de lutar é outra”, complementou.

Nós, forasteiros, tentamos entender o que aconteceu. E hoje, feito o filme, uma questão me incomoda com frequência. Somos, no Brasil, acostumados a estudar nossas derrotas. Farrapos, Canudos... É hora de darmos igual valor a nossas vitórias.

João Marcelo Gomes

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

MEMÓRIA


MEMÓRIA = HISTÓRIA?

MEMÓRIA X HISTÓRIA?

MEMÓRIA/HISTÓRIA?


Memória. Conceito tão ligado à História, que, de certo modo, se confunde com esta e que para alguns a antecede.

As relações entre memória e história, e o conjunto de atos individuais e coletivos que lhes dão materialidade e espessura política devem ser levados em conta por um documentário que aborda um evento 50 anos depois de seu acontecimento, baseando-se no testemunho daqueles que viveram o evento tomado como objeto. Este é o caso de A REVOLTA, que, mais que um produto audiovisual, é uma espécie de tratado sobre a relação Memória/História, no qual se fez questão de não negligenciar o processo de construção de versões acerca do que tenha sido do movimento do levante dos posseiros no sudoeste do Paraná.

Este movimento civil, que foi o único levante agrário armado vitorioso da história do Brasil, ainda não tem uma versão histórica definitiva, não consta dos livros didáticos (nem mesmo do Paraná ou dos municípios em que aconteceu), e não é contado aos jovens brasileiros, paranaenses, beltroneneses ou pato-braquinos. Ele resiste em poucos livros e nas memórias daqueles que viveram a revolta, portanto, mais de cinco décadas depois de ter ocorrido, ainda é um evento histórico em vias de construção.

A estrutura de funcionamento da Memória, com seus lapsos e espaços, a História, com suas diferentes, e às vezes contraditórias versões, foram os guias que nortearam a viagem que fizemos àquela região fronteiriça do país, que é o Sudoeste do Paraná. Estes guias estiveram presente também durante todo o processo de montagem do filme. Para nós era muito evidente que não faríamos UMA ou A versão da História, mas uma espécie de apanhado de diferentes versões que se complementassem e se digladiassem formando uma espécie de colcha de retalhos, ou quebra-cabeça acerca do tema abordado, contribuindo como gatilho detonador de novos debates acerca da revolta.

A esperança era e ainda é que, tornando A REVOLTA conhecida no país inteiro, este documentário contribua para que historiadores, sociólogos o humanistas em geral se voltem para este tema tão caro (quanto desconhecido) à história nacional. Aly Muritiba