quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Paraná - Pioneirismo calibre 38

Revista Manchete - Reportagem de Carlos Lemos em 1957


O Paraná esteve em guerra. Quatro mil colonos, normalmente pacíficos, pegaram em armas para defender suas terras, no Sudoeste do Estado, fronteira com a Argentina. Ameaçados por companhias colonizadoras, que se dizem proprietárias das terras, os colonos, depois de pequenas escaramuças, durante seis meses, foram à guerra total. Ocuparam uma cidade e sitiaram outra. Nos embates, morreram 15 pessoas: colonos e empregados das companhias.

Enquanto isso, na Justiça, um processo se arrasta, em três partes - União, Estado do Paraná e companhias - se arvoram em donas da terra que os colonos cultivam e fazem produzir. No Congresso, ainda em marcha mais lenta, segue o projeto da reforma agrária.

Os colonos não se negam a comprar as terras. Apenas querem comprá-las de quem possa vendê-las. Vieram do Sul (80 por cento de gaúchos). São pioneiros. Derrubaram a mata, plantaram trigo, feijão, milho e fumo. Agora, começaram a colher o produto. Amam a terra e lutam por ela.

A terra é rica e tem futuro. Por isso, é disputada com o argumento das carabinas.

A terra porque brigam colonos e companhias colonizadoras tem, só no antigo território das Missões, 212 mil alqueires. Com os remanescentes da gleba Chopim, alcança um total de mais ou menos, 375 mil hectares. Abrange sete municípios paranaenses: Chopinzinho e parte de Mangueirinha, da gleba Chopim; e Capanema, Santo Antônio, Barracão, Francisco Beltrão e Pato Branco da gleba Missões.

Está situada ao sudoeste do Estado, na fronteira com a Argentina. Ligando as cidades de Santo Antônio, no Brasil, e San Antonio, na Argentina, existe uma ponte internacional, onde já foi apreendido um Cadillac contrabandeado, e por onde passam os brasileiros que desejam fazer pequenas compras na Argentina, sejam de gêneros alimentícios ou de perfumes e artigos de lã, todos mais baratos do que em Santo Antônio.

Gaúchos são pioneiros

A população é calculada em mais de 120 mil habitantes, com 80 por cento de ítalo-rio-grandenses-do-sul, 10 de paranaenses e o restante de catarinenses, alemães e poloneses.

O mais adiantado dos municípios é Pato Branco, centro comercial da zona, com a fábrica de bebidas, duas fundições, um ginásio de irmãs religiosas, dois clubes, um cinema e dois hotéis. Tem cerca de 40 mil habitantes. O mais novo, criado em 1952, é Capanema, com 20 mil habitantes em todo o município e mil na sede. Santo Antônio, que regula com os demais, tem 15 mil habitantes em todo o seu território e pouco mais de 1.500 na sede.

Nas terras, está a última floresta do Sul do Brasil, calculada, pelo Instituto Nacional de Imigração e Colonização, em um milhão de pinheiros, representando uma riqueza de bilhões de cruzeiros. Cada pinheiro produz de oito a 10 dúzias de tábuas. Cada dúzia é vendida a Cr$ 300. A floresta é tão densa que um macaco, se pular de galho em galho, de árvore em árvore, andará mais de 200 quilômetros, até chegar à fronteira com a Argentina.

As empresas colonizadoras estão vendendo as terras por Cr$ 8 mil o alqueire, reservando para si o direito sobre as madeiras existentes. As principais culturas são de trigo, com 400 mil sacas anuais, milho com 600 mil, feijão, com 500 mil, fumo, principalmente em Capanema, com 15 mil arrobas, e suínos, com 150 mil quilos anuais. Só não dá ali café, por ser muito fria e sujeita a geadas a região.

É zona de pioneirismo. As cidades-sedes são pequenas e pobres. Tem o problema de luz e força, apesar dos rios existentes, mas não explorados. A estrada que liga Capanema a Santo Antônio é rasgada na selva, que quase a invade, em certos trechos. Longe do mundo, só alguns pequenos rádios lhe levam notícias. Não chegam jornais ou revistas.

A gente é boa, ordeira e pacífica. Só o desespero a levaria até os conflitos que lá se desenrolam. São gaúchos que só deixam suas terras para ir à igreja no povoado, aos domingos. Apesar de lembrar o antigo “far-west” americano, não existem os “saloons” e os pistoleiros. Santo Antônio é calma e tem paz.

O Oeste do Paraná é talvez, a zona de maior progresso em todo o Brasil.

4 comentários:

  1. Oi João, um abraço.
    O mais triste disso tudo é que grande parte de colonos paranaenses vieram para a Amazônia. Aqui esta luta por terra teve, também, essa motivação de uma guerra pela reforma agrária. Os colonos de lá brigavam com os índios e seringueiros por " algum" pedaço de chão. Revoltas...
    Silvio Margarido do " Mergulho ".

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  2. Olá João,
    Sou assessora de comunicação da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Gostaria de ver com você a possibilidade de trocarmos algums informações e de talvez exibirmos o filme em alguns espaços de formação da CPT e da Via Campesina. Você teria um email para falarmos diretamente?
    Meu email é comunicacao@cptnacional.org.br
    Abraços
    Firmes na luta!
    Cristiane

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  3. Sou estudante da Universidade Unioeste de Fco. Beltrão
    gostaria de saber onde podemos comprar ou baixar o documentario completo sobre a REVOLTA DE 1957, para exibirmos aos colegas e professores da Universidade.
    No momento estou em Curitiba.
    Obrigado
    Paulo Freisleben

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  4. Ola meu vo pedro santin deixou lembrancas pena eu nao ter conhecido nem por fotos,cesarsantin6@gmail.com

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