segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A voz do rádio no conflito de 57













Por Éverly Pegoraro
“As revoluções no Paraná se fazem pelo rádio”, dizia a revista O Cruzeiro1 , em sua edição de 12 de outubro de 1957, ao interpretar os acontecimentos que marcavam o Sudoeste paranaense como uma região de graves conflitos agrários. As disputas por terras, que ocasionavam investidas violentas de jagunços, revides organizados de colonos e posseiros e manifestações mascaradas de muitos políticos interesseiros chamaram a atenção da imprensa nacional e internacional. Durante alguns meses, e principalmente nos dias dos acontecimentos conhecidos como a Revolta dos Posseiros de 1957, os olhos da mídia se voltaram para o Sudoeste, conhecido na época como um imenso sertão, um verdadeiro Eldorado, “com moradores esparsos e quase divorciados da civilização, quando não constituindo bárbaros valhacoutos de bandidos”2 .


Quando a Imprensa participa da História

A década de 1950 foi marcante para o rádio. O incentivo ao consumo levava cada vez mais brasileiros a adquirirem o aparelho. O crescimento do rádio enquanto veículo de comunicação acontecia quantitativa e qualitativamente. A informação ganhava espaço nas programações, através de um radiojornalismo mais dinâmico e envolvente. O rádio mexia com a imaginação dos ouvintes, principalmente nos meios rurais, pois era o único elo de ligação com o mundo exterior.
Dessa forma, as emissoras Colméia, tanto em Francisco Beltrão como em Pato Branco, tornaram-se instrumentos de mobilização popular. Era através do rádio que a população, de uma maneira geral, tomava conhecimento da gravidade da situação no Sudoeste. Os desabafos dos colonos e posseiros aos radialistas sobre as injustiças e violências que vinham recebendo por parte das companhias de terras e dos jagunços também eram posteriormente relatados no ar. Era uma forma de expor, para quem quisesse ouvir, o que estava acontecendo na região. Gradativamente, os radialistas tornaram-se porta-vozes do conflito e o rádio o meio direto de comunicação entre lideranças, colonos e posseiros. Eles sabiam da abrangência e da força que o veículo possuía na região. Além disso, confiavam nos radialistas que tanto admiravam. Esses assumiam, aos olhos dos posseiros, a representação de heróis, de pessoas capazes de ajudá-los numa luta na qual o Estado parecia não estar do seu lado.

Colonos e posseiros foram convocados a participar da revolta pelas ondas do rádio. Era através da emissora que eles recebiam voz de comando e informações sobre os acontecimentos. Além disso, em Francisco Beltrão, a emissora funcionava como uma espécie de quartel general do levante, já que Pécoits e seus companheiros ficaram no edifício da rádio, um pequeno prédio em madeira de dois andares, no centro da cidade. E foi nesse local onde se deu o entendimento para cessar o conflito no município.

A atuação das emissoras Colméia de Pato Branco e Francisco Beltrão e as desavenças entre algumas lideranças da revolta – entre elas Ivo Thomazoni e Walter Pécoits – com o governador Moysés Lupion foram tão marcantes que o governador ameaçou fechar as emissoras. A alegação era de que as rádios perturbavam a ordem pública e tinham tendências subversivas, de acordo com a entrevista que Tomazoni forneceu ao O Estado do Paraná em 13 de novembro de 1957. Mas para uma emissora que conseguiu mediar um levante armado que saiu vitorioso, não seriam as ameaças de um governador que atrapalhariam o gosto da vitória. Assim, o problema foi contornado e as duas rádios continuaram suas atividades.

Através dos microfones, as Rádios Colméia de Pato Branco e Francisco Beltrão mostraram a importância da mediação jornalística atuante e do legado que isso representa para a memória da História Agrária do Paraná

1 MORAES, Mário de. Sangue no Paraná. O Cruzeiro, p. 5, 12 out. 1957.
2 COELHO JUNIOR. De paraíso a inferno. O Estado do Paraná, 25 set. 1957. Artigo, p. 4.

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